
As àguas revoltas da vida
me envolveram em seu torvelinho denso
de troncos e raízes arrastados
pelas mãos descarnadas do tempo.
— esse sádico maestro de sonhos
que teima em descosturar as malhas da ilusão
entretecidas, sempre, ao cair da tarde
na longa espera, à porta da casa.
Ajoelhada em volta do fogo
fico à espreita das labaredas,
que vêm lamber as brasas.
Os cabelos emaranhados da noite.
Os lençóis desmanchados em suor e sangue.
A desdita do trabalho em vão.
As pérolas e seus colares atados de nós.
O nascente e o poente
que não mais querem brincar de esconde-esconde
no desorizonte.
As rugas dependuradas na face.
O olhar de peixe morto.
Um bater de asas.
Portas e janelas da casa.
Fechadas.
Marisa Sevilha Rodrigues