( A tribo willeriana homenageou neste sábado, 1/4, com leituras do livro Poemas para Ler em Voz Alta, recém lançado pela Ibis Libris, o grande e inesquecível poeta, ensaísta, crítico literário e tradutor, Claudio Willer, falecido em janeiro de 2022, infelizmente antes de poder ver o livro pronto.)
Por Marisa Sevilha Rodrigues (*)

Lançamento póstumo do livro Poemas para Ler em Voz Alta do nosso guru-mestre-bruxo-xamã Claudio Willer, e homenagem com leituras de seus poemas por integrantes da Tribo Willeriana, da qual fiz parte, no início da década de 80, qdo me mudei para São Paulo, a partir de 1982. O livro é uma edição cronológica de todos os livros dele, cuidadosamente editado pela Ibis Libris, de Thereza Christina Rocque da Motta, sua amiga há mais de 40 anos, e profunda conhecedora de sua obra. Willer prefaciou seu primeiro livro O Joio e o Trigo, que ela lançou aos 20 e poucos anos, após uma oficina literária que fêz com ele, e desde então, seus caminhos nunca mais deixaram de se cruzar, tendo a poesia sempre como bússola a norteá-los.
Nas fotos do evento, que aconteceu na Casa das Rosas, ontem a tarde, 1/4, diversos amigos e poetas que o acompanharam pela vida toda como Flavio Viegas, Renato Gonda, Rubens Jardim, Celso Alencar, Ricardo Bicelli, Beth Braith Alvim, Ikaro Marx e Dalila Teles Veras, poeta e editora da Alpharábios, de Santo André – SP, entre tantos outros, leram seus poemas e falaram do grande e universal Willer q ainda terá seu nome grafado na história da Literatura Brasileira. Aliás, já tem, mas muito aquém do que ele foi, representou e fêz pela Poesia Brasileira. Willer foi um gênio, um monstro da literatura e da contracultura, um cara generosíssimo q nunca fêz questão de ter patota literária, como bem destacou o poeta Flavio Viegas, talvez por isso, tenha ficado à margem da grande mídia, mas era o tipo da coisa para a qual ele não dava a menor importância. Para ele, importante, mesmo, era VIVER e FAZER POESIA. Agitador cultural paulistano desde os anos 60, ocupou vários cargos municipais e estaduais em órgãos de cultura do Governo, sempre procurando dar espaço e voz à dança, ao teatro, às artes plásticas, etc..etc….com destaque para a Literatura, especialmente a POESIA, que era sua paixão maior, enfatizando a Geraçao Beatnik e os Surrealistas.
Quando o conheci — Em 1982, eu o conheci durante um sarau realizado nas escadarias da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, quando, metida como era, ( pra mostrar minha poesia eu enfiava a timidez no saco, na vdd),e lá fui eu com um calhamaço dos meus verdolentos poemas que se transformariam no meu segundo livro Maestro de Sonhos, publicado em 1983, e mostrei-os para ele. Willer pegou das minhas mãos todas aquelas folhas soltas, ajeitou-as, acendeu um cigarro — nunca tinha me visto, eu tinha apenas 22 anos e ele, uns 43, segundo a amiga comum ( que foi sua namorada, Thereza Rocque da Motta )– sentou-se num lance das famosérrimas escadas franciscanas, e começou a lê-los, ali mesmo, um por um. Generosidade foi a palavra mais dita e ouvida ontem, durante a homenagem que ele recebeu, neste sábado outonal onde sua presença foi mais que diáfana: foi sentida, intensamente, pelos presentes.
Quando acabou de ler tudo, com a maior atenção e carinho, olhou longamente para mim, com aqueles imensos olhos verdes ( que eram de arrasar corações) e me disse, simplesmente:
“o silêncio é fome de encontros”, lendo um poema meu. “Quem escreve um verso desses, com apenas 22 anos, já nasceu poeta. Tem destino — quase sempre trágico — de poeta. Vá em frente, sua poesia vai amadurecer muito, mas já tem no DNA a semente forte e transformadora do que está por vir”. Levantou-se, me deu um beijo no rosto, me devolveu o calhamaço e saiu, indo falar com as outras pessoas, que estavam nos cercando, todas querendo ouvir dele, algo assim, tão especial e definitivo para a vida.Eu peguei minhas folhas avulsas, entre espanto e alegria, não me lembro se pelo menos o agradeci pela leitura, e saí em disparada para casa, sem sequer acreditar no que tinha visto e ouvido. Aquela noite, não dormi, é claro, de tão feliz. Infelizmente, não segui ao pé da letra, seu vaticínio. Ao me formar em Comunicação Social, pela Faculdade Cásper Líbero, em 1986, caí na vida, fui rodar minha bolsinha profissional atrás do meu sustento, e parei de publicar os meus poemas por cerca de vinte anos, mas nunca deixei de escrevê-los, até reencontrar o Willer, 30 anos depois, pelas redes sociais, em 2000. E nosso encontro poético, que foi tão lindo, e que poderia ter durado uma vida, recomeçar…( mas essa já é outra estória) q eu ainda vou contar para vcs.
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(*)Marisa Sevilha Rodrigues é jornalista, poeta e consultora de comunicação. Criou o selo literário Prato de Cerejas em 2015, quando lançou a primeira coleção Prato de cerejas, em parceria com a editora e-galaxia, e, em 2017, a segunda coleção, publicando ao todo, ebooks de 15 autores, entre estreantes , como Renato de Oliveira, e já famosos, como Edson Bueno de Camargo. Todos à venda nas megastores do Planeta como Amazon, Google Play, Apple Store, Cultura e Saraiva. Neste ano, o selo completou sete anos, e Marisa inaugurou a editora Casa Prato de Cerejas, além do lançamento deste portal www.pratodecerejas.com.br Aproveite para conhecê-lo e cadastrar-se para receber nossas new´s letters.