
Machado de Assis e Eça de Queirós são alguns dos principais autores desse período, muito cobrado no Enem e em outros vestibulares
Um dos movimentos literários mais importantes no Brasil e no mundo é o Realismo — e, não por acaso, esse assunto está presente nas provas de Enem e vestibulares.
O período teve como sua obra inaugural o livro Madame Bovary, publicado em 1856, pelo francês Gustave Flaubet. Com personagens polêmicas e uma narrativa que revela o “lado sombrio” da burguesia, a história chocou a sociedade da época (e rendeu um processo para o autor). Fato é que o mundo estava mudando, e, com ele, a literatura produzida naqueles tempos.
Contexto histórico
O Realismo surgiu na Europa no século 19, quando a Segunda Revolução Industrial fervilhava e o capitalismo iniciara seu processo acelerado de expansão. Além disso, diversas áreas das ciências começavam a se desenvolver, e surgiam diversas teorias, como o Evolucionismo, de Charles Darwin, o Positivismo, de Auguste Comte e o Marxismo, formulado pelas ideias de Karl Marx e Friederich Engels.
Quando Machado de Assis estreou o estilo realista no Brasil com a sua obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, em 1881, muita coisa também estava mudando no país. Eram os momentos finais do Segundo Reinado, e um clima de revolução pairava sob o ar. Pouco depois de a Lei Áurea ser assinada, em 1888, um golpe militar deu fim à monarquia e encaminhou a instituição da República, em novembro de 1889.
Características
Com tantas mudanças sociais, econômicas e políticas vivenciadas ao longo do século 19, as artes também refletiam esse momento de efervescência. A sociedade se tornava menos idealizadora e mais prática, logo, o Romantismo não bastava para os artistas — e, assim, surgiu o Realismo.
O movimento se baseou fortemente na razão e na objetividade, um grande contraste com as obras literárias anteriores. Por isso, é possível perceber que, nos livros do período, as narrativas são conduzidas de forma mais direta e menos subjetiva, ou seja, sem dar espaço ao leitor para imaginar as características de determinado ambiente ou personagem.
Além disso, o Realismo tinha como grande função criticar a sociedade burguesa da época, tal como apontar sua hipocrisia. “Para os escritores, a vida da burguesia era uma balela, um artifício cruel para tentar esmagar a população pobre e fazer as pessoas acreditarem que aquele ideal de vida era o melhor possível”, afirma Celso Cavicchia, professor de literatura, em entrevista.
A explicação do professor se torna ainda mais evidente se considerarmos uma fala de Eça de Queirós, um dos maiores expoentes do movimento. “O Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para nos conhecermos, para que saibamos se somos verdadeiros ou falsos, para condenar o que houver de mau na nossa sociedade”.

Também de acordo com Cavicchia, as principais obras do Realismo expuseram não só as contradições da sociedade burguesa, mas também de seus ideais particulares. A mulher, antes vista como virginal, bela e inalcançável, passou a ser retratada como falsa, manipuladora e perspicaz. Enquanto isso, os homens deixaram de ser os “mocinhos” sonhadores do Romantismo, e se mostraram tolos e bonachões.
A maior crítica do movimento literário, contudo, talvez tenha sido ao casamento burguês — não por acaso, o adultério está presente em quase todos os livros da época. “O realista mostra que o perfil da família burguesa era uma coisa muito castradora”, explica o professor.
Outro aspecto importante do Realismo era a sondagem psicológica presente nas obras. Os personagens já não eram definidos por uma ou outra característica, mas sim por pensamentos complexos, o que proporcionava múltiplas faces a eles. Esse aspecto, entretanto, se tornou mais comum no Naturalismo, movimento literário que resultou do desdobramento do Realismo.
Fonte: Revista Galileu
Curadoria: Prato de Cerejas